Por Berna Almeida

crônicas -

Uma Peça Chamada Demência


Oh horinha complicada a hora do banho, não vai tomar, não quer, passa dias com a mesma roupa e vira um tumulto.


Sem, contar quando vai entardecendo, a agonia aumenta, para onde vamos vai atrás, e vira um fuzuê porque mamãe quer que eu vá para casa e se eu não for ela vai brigar, aqui não é a minha casa, você não manda em mim, eu não vou ficar aqui mais nenhum minuto.

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?

Que horas nós vamos?


E passamos o dia a responder as mesmas perguntas para o mesmo interlocutor.

É um teste de paciência…

Haja paciência!!!

Em vão bater de frente com estas situações, precisamos encontrar uma forma em que o ente querido não se irrite com o que tem para ser feito.

Em vão gritos, imposições, implicâncias, pois não podemos nos esquecer que não existe mais um cérebro como dantes. Não existe mais uma percepção espacial, não existe mais discernimento, não se sabe mais o “norte”, não se sabe mais nem o próprio nome.


Precisamos ir devagar nas exigências e cobranças com um cérebro que está sendo deteriorado a cada instante.

É preciso ter muito jogo de cintura para driblar situações que lhes tragam insegurança.

Pacientes amedrontados não evoluem nem com medicamentos, a única segurança que eles tem é de quem cuida, e se quem cuida não tem um equilíbrio emocional, tudo vai por água abaixo. Não há como recobrar uma mente apagada através de gritos e exigências que você mesmo normal, não conseguiria.


Separe seus problemas da vida do ente querido, ele não tem culpa do transtorno que virou sua vida após sua chegada, mas também é opcional colocá-lo numa clínica ou reunir todos os familiares e decidirem o que fazer com esta situação. Muitos acham um absurdo passar o dito “problema” para uma instituição, pior é manter um doente em meio a um caos rotineiro onde ele é jogado de mão em mão, porque ninguém se acha no dever de ajudá-lo.

Ninguém com demências opta por ter demências, se você não está dando conta de seus encargos e se estais vendo que ele piora a cada dia, procure ajuda, pacientes não foram feitos para batermos boca, afrontarmos, eles precisam de nossa ajuda, e se não temos estes quesitos é melhor procurarmos outros caminhos, pois alguém precisa se salvar nesta peça chamada Demência.



Autoria: Berna Almeida